Chamada para envio de artigos para a Galo n. 11
O dossiê: “FORMAS DE LIBERDADES E VIDAS DE LIBERTOS NO ESCRAVISMO ATLÂNTICO”
Os estudos no campo da História Social da Escravidão e da Liberdade passaram nas últimas três décadas por importantes renovações analíticas e metodológicas. Como corolário desse movimento, novas perspectivas e abordagens nos deram a ver a complexidade das relações e experiências vivenciadas pelos escravos no interior do cativeiro, no qual se desenrolaram uma constelação de estratégias de negociações, vínculos clientelares, formas de dependência, resistências, situações de tensão e projetos familiares. A diversidade com que experimentaram esses elementos impactou diretamente os desejos e planos de liberdade alimentados e levados a termo pelos escravos. A própria noção de liberdade ganha aqui um sentido amplo, já que não se limitava apenas à mudança de status jurídico que a alforria inaugurava, mas abrange também as condições de vida para a vivência da manumissão. E essas trajetórias de vidas foram diversas, envolvendo desde a manutenção dos laços com o cativeiro até o usufruto da condição de liberto trabalhando em terras alheias ou doadas pelos seus ex-senhores, geralmente engrossando o contingente dos homens livres pobres da sociedade brasileira ao longo do regime escravista.
A forma de exploração historiográfica desses temas tomou rumos diversos, desde a abordagem quantitativa, seja buscando uma tipologia das formas de alforrias, seja construindo um perfil demográfico dos libertos, até o enfoque cultural, referente ao plano das motivações das concessões de alforrias, bem como explorando as famílias e os significados da liberdade construídos pelos forros. Ambas as abordagens ainda trazem novas contribuições para a análise da liberdade, inclusive buscando na atualidade a comparação com os diversos exemplos dentro do espaço da escravidão atlântica, alcançando a África ou as condições de vida e integração social dos ex-escravos no pós-Abolição.
O sucesso da historiografia sobre escravidão e liberdade tem demonstrado que às diversas estratégias empreendidas por africanos e seus descendentes – como a alforria, a fuga ou revolta, ou a demanda à justiça – correspondiam variadas experiências de autonomia, seja como produtor independente, trabalhador subordinado, foragido ou diversas outras formas mais ou menos precárias de liberdade.
Partindo dessas e de tantas outras questões que a temática proposta enseja, objetivamos congregar aqui trabalhos de pesquisa que possam explorar a riqueza e a complexidade das relações sociais, econômicas e políticas que pautaram e conformaram as diversas experiências de escravidões e liberdades no escravismo atlântico, ao longo de sua história. Fitar essa realidade, acima de tudo, permite-nos compreender e problematizar muito daquilo que nos tornamos. Afinal, a intolerância, as desigualdades e o racismo, marcas deletérias de nosso tempo, possuem raízes históricas profundas e sua superação não se dará sem conhecermos os caminhos trilhados até aqui.
Publicação prevista para o 1º semestre de 2025.
Organização: Dr. Afonso de Alencastro Graça Filho (Docente da UFSJ), Me. Bruno Martins de Castro (Docente da SEE/MG e Doutorando pela UFRJ) e Dr. Carlos de Oliveira Malaquias (Docente da UFS).
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